quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Blade Runner: O Caçador de Sereia

Nesta terça-feira (08/01/2013) estreou "O Canto da Sereia", minissérie da Rede Globo que narra a trajetória avassaladora e curta de um jovem talento da música baiana, chamada Sereia (Ísis Valverde), que é morta durante uma importante apresentação. Investigando os principais suspeitos da execução da diva soteropolitana, o detetive Augustão (Marcos Palmeira) descobre não só que há interesse inescrupulosos na morte da cantora, como também uma possível intriga política envolvendo a voz da moça.


Como roteirista e cinéfilo, identifiquei assitindo a apenas um episódio da minissérie (na última quarta-feira, dia 09 de janeiro) toda a referência do autor Nelson Motta extraída dos filmes noir (detetive envolvido em crime intrincado com mulheres lindas e interesses de figuras graúdas da sociedade). Porém, mais do que isso, identifiquei o padrão de narrativa do melhor filme de ficção científica (na minha opinião): Blade Runner, o Caçador de Andróides (Blade Runner, de Riddley Scott). Pode parecer ofensa aos amantes desta obra de arte dos anos oitenta, mas faça um esforço e me acompanhe nesta análise rápida?


Vamos à análise dos arquétipos para ficar mais dinâmico:

Augustão (Marcos Palmeira): detetive que analisa friamente o caso, usando suas influência com o submundo baiano para descobrir a identidade do assassino de Sereia. Tentou fugir durante um tempo de suas raízes policiais, sendo segurança da estrela baiana, mas a artéria de investigador pulsa mais forte. Este personagem é análogo ao Deckard (Harrison Ford). Um policial relutante que aceita integrar novamente a Força dos Blade Runners (aqueles que correm no fio da navalha) após o seu substituto - treinado por ele mesmo - ser morto por um andróide modelo Nexus 6, os mais avançados e perigosos do universo. No meio da investigação, o policial que usa seus conhecimentos undergrounds, acaba se envolvendo com uma andróide suspeita e acaba lutando para preservá-la.


Mara (Camila Morgado): empresária da tríade de sócios responsáveis pela carreira de Sereia. Faz parte da "Família Sereia", segundo a própria cantora. Ao não aceitar participar de uma transação puramente política de Mara, Sereia alimenta uma ira imensa na empresária, tornando-a suspeita de mandar matá-la. A personagem que mais se aproxima de Mara em Blade Runner é Rachael (Sean Young), pois, assim como Deckard, Augustão parece ser emocionalmente atraído pela empresária e os dois desenvolvem um relacionamento baseado em desconfiança, mas com muito tesão na pela. Rachael entende os receios de Deckard, mas se entrega a ele, confiando em seu julgamento, assim como Mara aceita o detetive em sua casa, mesmo sabendo que ela é uma das suspeitas da lista de Augustão. Uma femme fatale.


Mãe Marina (Fabíula Nascimento): quase que todos os envolvidos no escândalo de Sereia - assim como a própria cantora - passaram pela mão de Mãe Marina. O próprio detetive tem um envolvimento espiritual com a matriarca religiosa. E além de sabedoria, Mãe Marina detém segredos importantes para a investigação de Augustão, mas não os abre aos seus olhos. Quem Mãe Marina replica em tela? O presidente da Tyrell Corporation, Eldon Tyrell (Joe Turkell). Os replicantes são criação deste homem e ele, como um elo divino, se regozija com todos os segredos que detém. Sabe onde achar os Nexus 6 procurados por Deckard e até mesmo parece conhecer mais sobre o detetive mais do que ele próprio. E é nesta personagem que encontrei a referência mais velada de que os roteiristas deram a narrativa de Blade Runner. Quando questionada sobre Sereia por Augustão, Mãe Marina diz: "Eu disse à Sereia: 'A sua estrela tem um brilho muito forte. Mas a estrela que uito brilha, se apaga logo.'" Cara, este é o diálogo TODO que o Tyrell tem com o Roy Batty (Rutger Hauer), quando este pede por mais vida: "A estrela que muito brilha, Roy, logo se apaga. E a sua, meu amigo, tem brilhado bastante". Pelo menos fizessem uma adaptação pra dar a mesma mensagem...


Só Love (João Miguel): admirador de Sereia e presidente de seu fã-clube, o alegre "súdito" da Rainha da Bahia consegue compôr a sua côrte como secretário e ficar cada vez mais próximo de seu ídolo. O tempo todo, o personagem tripudia pela vaga na "Família Sereia" e fica arrasado com a morte de sua amada chefe. Só Love encontra em J.F. Sebastian (William Sanderson), engenheiro chefe de Tyrell, sua referência em Blade Runner: um homem doente, crédulo e, às vezes, infantil. Por sua condição debilitada de saúde, ele não pode deixar a Terra e constrói seus próprios amigos: pequenos andróides semelhantes a manequins e brinquedos (exatamente o que são os fã-clubes). Admirador dos Nexus 6, Sebastian se envolve, com mais fascínio do que lascividade, com Pris (Daryl Hannah), uma modelo de prazer, esperando ficar mais próximo deste intrigante grupo de replicantes.


Sereia (Ísis Valverde): Sereia é talentosa, instigante, provocante, algo que dá prazer aos olhos e ouvidos do povo baiano. Praticamente uma boneca: comercializada e idealizada. A única função da cantora na série é ser o estopim para toda a ação e seu relacionamento prévio com todos os personagens, além de ser um colírio aos olhos dos espectadores. Isto é típico de Pris (Daryl Hannah, citada acima), uma Nexus 6 que começa, assim como Sereia, como uma coitada na rua, em busca de alguém para ampará-la, encontrando em Sebastian alguém para acolhê-la (tal qual Só Love compra seu barulho com seu fã-clube, dando-lhe força). Pris é uma modelo de prazer, uma prestadora de serviços mundanos, e extremamente envolvente. E sua morte desencadeia a fúria de quem a amava verdadeiramente. Afinal, se você conhece um sentimento, por que dizem que você não pode sentí-lo?


Muitos outros personagens da série possuem relações diretas com os do filme Blade Runner, mas eu ainda não posso afirmar isto categoricamente pois tenho pouco material analisado para comparar. Mas já enxerguei ali um Gaff (Edward James Olmos), a Margareth Menezes é uma delegada que me lembra muito o chefe do Deckard na delegacia (Bryant, interpretado por M. Emmet Walsh), mas um Roy Batty eu ainda não identifiquei. Estou em dúvida entre Paulinho de Jesus (Gabriel Braga Nunes) e Artur "Tuta" Tavares (Marcelo Médici), sendo que um deles deve ser o Leon Kowalski (Brion James) de Blade Runner. Basta saber quem será o líder dos Nexus 6.

O gênero noir nunca sairá de moda. A minissérie em questão tem seus méritos. Só tracei paralelos - e cópias - relacionando as duas obras.

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