quarta-feira, 24 de julho de 2013

"Man of Steel" - UM FILME SUPER... ESTIMADO! - Parte 2

Primeiro Ato: O Colapso

A fotografia de Krypton é bonita, de fato, mas eu esperava algo mais destruído, algo que condissesse mais à situação caótica que o planeta se encontrava. Ver animais GRANDES em atividade naquela nação de intelecto avançado em plena GUERRA me incomodou um pouco. Eu esperava criaturas mais sorrateiras, mais discretas. Ainda mais na cena em que Jor-El por duas vezes cavalga aquela “Fada-Dragão-de-Itu”. Não consigo conceber que ele – sendo o cientista que é – prefere cavalgar um jegue alado a usar algum tipo de tecnologia de locomoção (uma moto, sei lá). Muita gente achou que esta pegada estilo “Maters of the Universe” ficou legal. Eu não curti. Senti um “Avatar Feelings”, sabe? Se você me propõe uma civilização que usa sua ciência pra extrair do ventre de seu planeta o sustento da população, a ponto de colocar seu núcleo em colapso, espero ao menos que a natureza reaja CONTRA estes indivíduos. Ou pelo menos, sejam omissos à sua crise.

Toda aquela rápida viagem por Krypton foi um desfile de ego dos efeitos especiais. Se pelo menos fosse algo INOVADOR, eu não diria nada de sermos carona de Jor-El e ver aquele mundo magnífico. Mas eu, sinceramente, vi "Avatar" todo ali, mas na visão em tons áridos do Zack Snyder (que deixou sua assinatura nas cenas majestosas e no filtro de cor do planeta, além de saber fazer cenas de catástrofe como ninguém, enquanto é notória a influência de Christopher Nolan nas cenas de luta – planos fechados e sombrios). Fora cenas que você sabem como terminam só de ver seu início. Aquela do Jor-El saltando do berçário de kryptonianos ao melhor estilo John McLane pulando do edifício Nakatomi Plaza para ser pego em pleno ar pelo Grifo-Varejeira é digna de “Ah... Sabia...”.

Falando em lutas, por que, ao colocar a armadura da casa El, o Jor-El colocou uma capa? Sei que não atrapalha a narrativa, mas incomoda o meu bom senso! Assim como me incomoda o Jor-El colocar o códex naquele decriptador caseiro – você vê que ele tinha má intenção desde antes – pra passar toda a informação dos kryptonianos ao filho, que servirá como um “vessel” desta cultura (o que foi uma bela homenagem à cidade engarrafada de Kandor – viu como não sou um simples reclamão?). Por que não passar isto – em termos de roteiro e narrativa ao “pendrive” da família? Seria muito mais coerente com tudo o que vem a seguir no filme.

"O Dispositivo Não Foi Reconhecido..."

Por falar em coisa coerente, e o sistema prisional de Krypton, hein? Até onde eu sei (por conceito e não por prática), a prisão é um local onde a pessoa cumpre a sua pena, é castigada por aquilo que fez de errado e reflete sobre seus atos, saindo de lá uma pessoa esclarecida sobre os malefícios de sua atitude. Mas, para isso, deve haver tempo para pensar. E em animação suspensa, prisão somática, congelamento em carbonita, whatever, você simplesmente dorme num segundo x e acordará no segundo x + 1, mesmo que 20.000 anos no futuro! Você não pensou em nada e volta tão culpado quanto foi. A Zona Fantasma é como um grande tapete para onde você varre seu lixo: ele continuará sendo lixo e nada há de mudar o seu estado. Nem o tempo, pois o tempo não existe. O filme de 1980, do Richard Lester, neste ponto é muito melhor na abordagem da Zona Fantasma. Mas aí entra mais um demônio do roteiro – chamado Deus Ex Machina – que me encafunfa a cabeça: pra quê diabos mandar os condenados congelados – em naves em forma de pênis (que serão editadas em outro formato na versão de home vídeo) – para a Zona Fantasma numa MEGA NAVE cheia de tecnologia? Só mesmo pra eles voltarem com sentimento revanchista e acabar com tudo, né? Krypton fez bem em deixar de existir.
 
Segundo Ato: Longe de Casa

A fusão da nave do bebê Kal-El com o barco de pesca de lagostas é uma boa forma de te deixar tranquilo neste salto de tempo entre a criança e o adulto. E é aqui que eu percebo que não é a grandiosidade cinematográfica que deveria ter sido percebida pelo público geral (a grande maioria), mas sim os elementos de segundo e, às vezes, terceiro plano: note que o Clark é o único a usar uma capa vermelha dentro deste barco (quem assistia a “Smallville” sabe como este tipo simples de referência é importante), assim como outros pequenos elementos – que se repetem sutilmente ao longo do filme – como o foco exagerado em ações e seu sons (um bule sendo posto de volta na cafeteira, um molho de chaves sendo puxado da bancada, uma porta batendo com a saída de uma pessoa) tornam a experiência do vindouro Superman “vivenciável” para os espectadores (afinal, o que é trivial para nós, humanos, como as três ações descritas acima, é superlativado aos sentidos do Clark). Mas são apenas nestas pequeninas referências técnicas (de direção. Parabéns, Snyder) que o filme brilha (tirando a trilha sonora, que é um crescendo apoteótico e esperançoso do início ao fim. Mas comentarei sobre trilha sonora alguns atos mais a frente). 

Não que eu queira ver o Clark nu – por mais que o cara seja bonitão, os bagos dele não são algo que eu queira admirar – mas esta parada de “Complexo de Hulk” não cabe num filme “realista” do Superman, né? Foram-se embora camisa, botinas... e por mais que as calças tenham queimado, elas não se desfizeram (e teoricamente, as calças são mais frágeis que os calçados usados pelo novato pescador-de-lagostas), assim como o cordão do “Pendrive El”. Não vou discutir também o lance do Clark fazer a barba (afinal, se nem fogo queima os pelos dele, o que poderia cortar aquele matagal de queratina?), consigo ter suspensão de descrença nisso. A cena dele segurando a plataforma de petróleo é excelente. Curti mesmo (embora o movimento computadorizado dele pulando do heliponto para aparar a torre tenha sido pouco eficiente), mas entra algo que não curti neste Kal-El: ele grunhe e grita em demasia. Tudo bem que deve ser uma força de colocar qualquer hemorroida super-heróica pra fora, mas ele não deveria “expressar” tanto seu esforço. Mais pra frente, toco neste ponto novamente e vocês irão me entender.

 "Hemovirtus: Eu Aprovo!"

Então, começa o momento LOST: os flashbacks. Vejam bem, não condeno os flashbacks deste filme. São muito bem usados. A transição deles é que me deixou com um gosto de LOST na boca. Pois bem. Começamos com um flashback do Clark tendo um momento de excitação sensorial em sala de aula e se refugiando no almoxarifado, vindo sua mãe (Diane Lane, que começa bem o filme e termina como uma “Louca dos Gatos”) para escapar destes estímulos aos seus poderes. Aquele discurso da Martha com o Clark, com negócio de mundo grande/mundo pequeno, uma ilha isolada, nade até ela (LOST? rs) foi ideia do Nolan. Certeza que foi. Pareceu muito com o discurso do “Senhor, por que caímos?” do Alfred em “Batman Begins”. Estas filosofias, ainda mais aplicadas a crianças, não me soam verdadeiras. Acho que a abordagem deveria ter sido mais pessoal, de mãe pra filho, longe dos olhos curiosos da escola. E com menos metáfora. Não vou dizer que foi “desnecessário”, pois este momento deveria existir. Mas tinha de ser menos lúdico.

Antes de continuar nos flashbacks, devo ressaltar uma coisa muito presente na assinatura de Zack Snyder: ele é mesmo advindo da escola de videoclipes. Aquele pequeno trecho do Clark surrupiando as roupas do cara na corda e andando pela cidade, ao som de “Seasons”, do Soundgarden, é um videoclipe em início de créditos. Mas enfim...

Voltando aos flashbacks: aí vem a lembrança do acidente do ônibus escolar. Uma decisão muito acertada, que pouca gente atentou, é que houve um cuidado dedicado de não culpar ninguém pelo acidente. Não foi culpa do motorista do ônibus, não foi culpa do motorista do outro carro. Simplesmente foi uma fatalidade que, graças ao Clark, não acabou em tragédia. Mas aí entra algo que poderia ter sido melhor trabalhado: o poder de super impulso do Clark. Como seria a cena, na minha concepção: mostraria que, por não ter um solo pra gerar uma reação de empurrão do Clark com o veículo, o conjunto homem e máquina desceria cada vez mais, o que deixaria Clark desesperado. Mas, assim que os pés tocassem o fundo do rio, ele conseguiria concentrar sua força no que seria, no futuro, o salto que levaria ao voo. Um impulso que impactaria a terra e faria com que ele conseguisse levar o ônibus à margem do rio. Este súbito impulso teria sido o responsável pela ejeção de Pete Ross de dentro do ônibus, forçando-o a ter de voltar ao rio para resgatar o gordo. E nesta minha versão, ele não ficaria parado atrás do ônibus esperando a Lana Lang vê-lo.

 "Eu precisava mesmo pegar esse ônibus..."

Agora, um personagem que muitos adoraram e que eu não curti: Jonathan Kent. Gosto de Kevin Costner. Palavra, sério mesmo. Mas ele estava um chato do cacete neste papel. O John Schneider é o melhor Jonathan Kent de todos os tempos (veja qualquer episódio em que ele esteja. É um show de composição de personagem, principalmente o final do episódio 13 da 5ª temporada de “Smallville”. Sempre que dá uma vontade de curtir uma deprê, eu assisto esses dois minutos finais). Mas enfim, dando continuidade: Ele vem metendo um monte de terror no moleque, que já é boladíssimo com a sua condição anormal e eu não me assustaria se, do nada, sentado à caçamba da Pick-Up, ele dissesse: “Tá bom. Já cansei de te sacanear. Tá ficando chato já. Chega aí no celeiro que eu vou te mostrar uma parada.”. Aí tem toda aquela explanação sobre ele não ser daqui, que ele quer continuar sendo filho do fazendeiro e tudo mais. Cineastas ou entusiastas da 7ª arte: fiquei intrigado com a iluminação de fundo deste porão, sempre no Clark, uma luz brilhante lá ao fundo. Se isso tiver alguma explicação, poderia compartilhar? Isso não está lá à toa.

Adiantando: curti como ele soube da nave alienígena (aquele papo de militares no bar), a referência ao Superman II (com o caminhoneiro encrenqueiro e como ele se vinga do seu Bully) e de como ele é totalmente imperceptível aos olhos de todos naquela estação de pesquisa no Canadá (“Cuidado. Essas malas são pesadas”, e ele lá, levantando todas como se estivesse levantando papel). Mas é aí que começa a “Sessão ‘Que Conveniente’: a mulher me sai DE NOITE pra tirar fotos e tem o olho tão clínico que consegue, SEM ZOOM no início, ver que alguém tá subindo a trilha pra algum ponto da geleira! Sem contar que o cara que tudo escuta e tudo vê nem se atentou ao som da máquina e ao flash. Em seguida tem toda aquela descoberta da nave: curti o casulo aberto (há quem especule ser a Kara Zor-El a ocupante daquele nicho), as múmias kryptonianas e o sistema de defesa da nave. E no fim, Lois Lane leva a marca de seu contato imediato na pele. Ainda bem que não foi sonda anal (embora ela tenha cara de que, daquele ET, ela quisesse).
 
Terceiro Ato: A Revelação do Mistério

Hoje em dia não há dúvidas que qualquer filme pode ser produzido sem a preocupação de efeitos especiais mambembes. Toda a tecnologia é sensacional, mas este filme falha – ainda que poucas vezes – no conceito de efeitos especiais. Falei anteriormente do salto de Clark do heliponto à torre da refinaria de petróleo, e agora falo da tecnologia de maquetes 3D de Krypton. Parece que faltou renderização na hora de expor cada imagem sintetizada por estes aparelhos (ainda que a intenção seja a de “emular” aqueles painéis metálicos de múltiplos pinos). A única explicação que eu pensaria em considerar – ainda assim com muita reticência – é a de que a tecnologia “visual” de Krypton deveria dar margem a parecer uma tecnologia, e não algo real. Mas, ainda assim, reluto em aceitar e isto é um ponto que muito me incomoda.

E por falar em incômodo, o que falar da consciência em “pendrive” do Jor-El? Inteligência artificial é algo que está programado para expressar sentimentos durante interação? Como ele consegue discernir que certo ponto de um debate incita uma manifestação emotiva ou exige uma resposta carinhosa? Achei esta representação “física” de Jor-El não só muito “viva”, mas também desnecessariamente muito presente. Praticamente anulou o peso da morte do indivíduo. Russel Crowe compôs o Jor-El muito melhor que Marlon Brando (já que estou levando tantas pedradas, por que não tomar pauladas dos outros fãs?), mas o carisma de Marlon Brando em suas POUCAS aparições é insuperável.
 
Aí chegamos à questão do uniforme. Como bem disse, o filme deveria se bastar como primeiro material do universo que está construindo. O que veio antes é apenas influência e referência. Reza a lenda que aquela nave congelada há pelo menos 20.000 anos no Canadá é a nave que trouxe um pequeno time de kryptonianos à Terra (dentre eles, como dito, Kara Zor-El). Então seria possível que a casa El já fosse bastante consolidada para ter o prestígio de fazer uma jornada espacial. Porém, como única representante da casa da Esperança – como dito pelo Holo Jor-El – o uniforme presente deveria ser para um modelo feminino, e não para um corpulento kryptoniano. A única coisa que posso PENSAR em aceitar é a teoria que corre por aí de que uma “impressora” 3D imprimiu aquela roupa baseada nos moldes do Clark. Meu amigo Arides Luna sentiu um pouco este trecho, pois ele tem o apego emocional ao lance da Martha ter feito este uniforme para o filho em todas as outras visões live action do herói. E vou falar uma coisa? Eu não concordava com o fato de tecido terráqueo ser uniforme do Superman, mas também não curti esta vertente de impressão ao melhor estilo J.A.R.V.I.S. construindo as armaduras de Tony Stark. Nesta parte, sinceramente, não sei como solucionaria. Gostaria de ver menos uniforme e mais trajes civis no Superman. Por falar em J.A.R.V.I.S., Jor-El foi o J.A.R.V.I.S. do Kal-El neste filme. Cada homem de metal com sua inteligência artificial...

Agora sim, o momento do voo. A habilidade que mais fascina as pessoas quando falamos de Superman. Que cena mal executada. A minha solução pegaria metade do que foi posto no corte final e receberia o último toque de flashbacks relacionados à descoberta dos poderes. Vamos lá: começaria com Kal-El saindo da nave, mas a luz de dentro permitindo ver apenas a sua silhueta. Aí, aquele flashback que tem no final do filme (com Jonathan Kent vendo ele com o lençol vermelho nas costas, ainda criança) seria a câmera acompanhando de trás e girando para o rosto do menino. A câmera fecha nos olhos do jovem Clark e o flashback retorna a Kal com o uniforme, se concentrando para saltar. Com o impulso dado, a câmera gira em torno do Superman e o bater da capa faz a transição de flashback com a jaqueta vermelha do já adolescente Clark. Quando atinge o ponto máximo do salto, ele começa a cair e tendo como fundo um panorama do céu azul, não se nota direto a transição do passado com o presente, mostrando o Superman caindo no gelo. Novamente ele salta e mostra uma transição feita com o cabelo esvoaçando do herói, indo para um Kent de quase 20 anos, falando no salto. Desta vez, mostra o Kal de uniforme caindo e o impacto - que seria contra uma montanha - se dá no passado, no choque do Clark (já homem-feito) contra um monte de feno. Este Clark se levanta e bate a palha grudada em suas roupas e é neste quinto ou sexto tapa que a transição para o futuro acontece, mostrando ao invés de palha caindo, pedras. E é então que vem a cena de Kal ajoelhado, evocando todo o seu poder até o salto final, sem flashbacks, apenas este homem que ele se tornou. Finalmente, o voo é atingido. E diferente de alguns, não me incomoda o Superman sorrindo e dando uma ou outra gargalhada ao voar. Pelo amor de Deus, é um cara que viveu 30 anos da sua vida reprimido pelos pais e, agora, o céu é o limite para ele! O que me incomodou foi ele, no filme, supor que poderia voar. Com direito a bracinho pra cima e tudo. Meu amigo Arides Luna (mais uma vez) disse que a melhor e mais convincente forma dele aprender a voar foi quando ele foi empurrado pelo cachorro e aprendeu por acidente, e que tão bom quanto isso foi a queda dele no celeiro, ainda jovem, no filme do Bryan Singer. E concordo, você aprender por instinto é muito melhor. E se ele já tivesse esse ímpeto desde jovem, justificaria melhor a tentativa de voo nesta cena.

 "Para o Alto... e Avante!"

Falamos acima da libertação do menino enclausurado que aprendeu a voar (alguém lembra daquele filme que o garoto era autista que passava direto no “Cinema Em Casa”: “O Garoto que Podia Voar”?), então chegou a hora de falar do cara que foi responsável por esta clausura: Jonathan Kent, mais uma vez. Mas agora, pra falar de sua morte. A discussão dentro do carro é boa e tudo mais, mas o desfecho é tão idiota que estraga qualquer coisa que ele tenha feito de bom no filme. Martha pede pro Clark voltar e pegar o cachorro (eu pegaria o cachorro também, não deixaria ele morrer se eu tivesse a oportunidade de salvá-lo) e, SEM MOTIVO ALGUM, Jonathan fala pra ele levar a sua mãe e a criança que ele tinha no colo pro abrigo antes que o furacão chegasse, pois ele ia salvar o cachorro. Cara, as pessoas estão em choque naquela situação, não iam nem notar o Clark arrancando a porta do carro (ainda tinham o furacão pra quem jogar a culpa), isso se ele precisasse arrancar, pois ainda dava tempo. E, no fim das contas, Jonathan prefere resguardar o segredo do filho a ser resgatado na frente dos outros. Até concordo que se ele fosse lá salvar o pai, colocaria todo o segredo a perder, mas o Jonathan mereceu morrer por ter tomado a decisão errada primeiro. “Ah, ele morreu vitorioso”. Nã, nã, não, meus amigos! Ele morreu empatado. Decisão idiota (ir pegar o cachorro) = -1 no placar; decisão consciente (pedir para o Clark não ir salvá-lo) = +1. Ou seja, terminou no zero! Pra mim, ele tava era de saco cheio da Martha e soube que aquele furacão poderia ser o mesmo que passou anos antes ali no Kansas e sumiu com sua tia Dorothy e seu cãozinho Totó. Ele queria ir pra Oz. Brincadeiras a parte, esta sequência tem algo muito importante, tecnicamente falando: assim como os sons são explorados ao máximo quando Clark está próximo (para enfatizar que ele escuta TUDO), o silêncio daquela morte consentida por Jonathan foi crucial para mostrar o vazio que a alma de Clark teve a partir daquele momento. E eu aprovo o grito de Clark nesta hora. Eu aprovo o grito diante da morte.

Com a morte de Jonathan, Clark se tornou uma bússola descalibrada: não tem mais norte. Por isso ele está perdido no mundo. Ele não está procurando quem ele é, mas se perdendo por onde passa. Sem ter quem orientá-lo, ele vaga a esmo. Até que ele ouve aquela conversa dos militares, como falei no ato anterior. E, de forma sutil e bela, a bússola segue para o local que ela perdeu: o norte. E é lá que ele encontra seu novo propósito: guiar os que estão perdidos. Muito bom isso.

Quando descobre este negócio todo de quem é, de onde veio, por que é assim, ele volta pra casa. E notaram? Ele veio de carona num caminhão da Lexcorp. Achei sutil e interessante (além de pertinente, pois ele é um caroneiro o filme inteiro).

Quarto Ato: A Chegada da Ameaça

É neste ponto que o filme dá uma virada brutal. Além de se tornar afobado, ele trai a sua própria proposta: deixa de ser um filme sobre descoberta muito bruscamente, pára de trabalhar o carisma do herói e parte para uma ameaça gigantesca, sem dar tempo para que ele digira a sua condição de superser com motivação. Desta forma, fica difícil você comprar este personagem como o seu herói pleno.

A nave onde General Zod e sua tropa foram exilados orbita o planeta Terra (não falei que essa nave era um Deus Ex Machina que só servia pra complicar a vida do protagonista?) e manda seu recado em todas as línguas: “Você não está sozinho” (com destaque para dois países: primeiro o Brasil, sempre com um português sofrível e suas TVs de tubo – como se realmente não fôssemos um dos maiores consumidores da tecnologia LCD – e o que parece ser o Nepal, onde as pessoas assistem TV no meio de um acampamento... ligado em que tomada?). Está lá o Clark tomando muito bem a sua breja (olha só, isso é que é Superman macho: cabelos no peito que saem pela gola do uniforme e que bebe!) e escuta que deve se entregar ao General para que a humanidade não sofra as consequências. Aí entram duas cenas que, sinceramente, não precisavam estar no corte final do filme: a ida de Clark à igreja e o flashback de Jonathan e seu filho durante o ataque dos bullys. A lição pelo padre poderia ser dada pelo Holo Jor-El, ainda na nave antes dele aprender a voar; e a lição do pai poderia ter sido dada por ele mesmo ainda na discussão dentro do carro, antes da morte pelo furacão. Colocar o Jonathan DE NOVO nos flashbacks após a morte dele num flashback anterior praticamente “anula” o sentimento de que nunca mais vamos vê-lo no filme (mesmo excesso que Jor-El teve ao longo da película). Pois bem, voltando à ameaça de Zod: por que diabos ele simplesmente não voou até a nave e arrebentou todo mundo? Mas não, tinha de ir parcelar o trabalho no exército. E é isto que me incomodou bastante neste ato: o Superman voa firme, como um monolito divino (segundo as palavras do amigo Arides), mas não houve A entrada triunfal do Superman neste filme. Superman que se preze, tem estilo ao se apresentar publicamente pela primeira vez na história. Aí ficou muito barato, ainda mais sendo para se entregar. Aí se seguem cenas que são a versão mais “realista” da entrevista de Kal-El com Lois Lane (ocorrida na cobertura de Lois Lane, no filme de 1978).

 "Não faça joguinhos comigo, General..."

 Depois de muita informação (dentre elas mais uma explanação direta de que Superman É Jesus Cristo de Collant: “Estou aqui há 33 anos...”), chegou a hora de ir encontrar a rapaziada na nave do Zod, mas, estranhamente, a bela Faora-Ul (que atriz bonita, vou te falar. Teria sido uma excelente opção para Mulher Maravilha) diz que Zod quer a Lois Lane a bordo também. Pra quê fazer isso? “Ai, seu idiota! É pra ler a mente dela se não conseguirem achar o que procuram na mente do Kal-El! Dã!” Idiota, neste caso, seriam os kryptonianos, pois não é preciso ler a mente desta mulher pra perceber que ela não sabe de porcaria nenhuma! Olha a cara de imbecil dela! Mas enfim, ela acaba tendo um propósito muito interessante: ser a única pessoa com bolso naquela nave pra guardar o pendrive de Jor-El (valeu pela explicação lógica, Nerdcast!), pois é a ela que Kal confia o apetrecho. Porém, fica a pergunta: pra quê diabos o Superman estava com aquele pendrive indo pra se entregar ao exército?!? É pedir pra perder!

Eis que vem uma cena que foi uma homenagem discreta e bem feita ao filme de Richard Lester:  Superman se ajoelha perante Zod! Tudo bem que foi por causa da atmosfera estranha ao seu corpo adaptado à atmosfera terrestre (lembre-se que Martha dizia que o assistia dormir assim que chegou à vida dos Kent, pois parecia difícil à criança trazer e manter ar nos pulmões. A adaptação orgânica não foi imediata), mas ainda assim, é uma bela cena de referência! Até então, eu achava que a capa do Superman estava inconsistente com a forma kryptoniana de se paramentar: afinal, eu só tinha visto capas quando se usava armaduras, mas no “sonho” de Kal, Zod estava com a malha primária e usando uma vistosa capa preta. Pena que não tinha gola “V” (bela sacada que o Azaghal teve, mas não pensaram no filme), mas tínhamos um general romano das estrelas ali, protegendo seu legado (o visual é indubitavelmente inspirado nestes indivíduos). Aí, lá vai Lois Lane pra cela – diz ela que depois de uma sessão de inspeção da sua mente – e já mete o pendrive no buraco da nave, o que convoca Holo Jor-El ali também. Depois de um rápido datashow, Holo Jor-El brinca de Nicholas Cage, naquele filme “O Vidente”, anunciando por onde vinham as ameaças. Nada contra isso. Apenas contra o fato dele ter de gesticular para acionar comandos da nave. Acho que apenas piscadas e movimentos de olhos seriam melhores artifícios do que essa síndrome italiana de dar ordens.

Depois de sofrer com a mudança da atmosfera dentro da nave, Kal fica numa boa com a nova atmosfera imposta por Holo Jor-El. Até aí, excelente, mas... ele quebra a carcaça da nave para escapar e não sofre nem um segundo com o vácuo! Isso é uma falha, ao meu ver.

"Estou sentindo uma falta de ar e... TÔ LEGAL! TÔ LEGAL!" 

 Depois de salvar Lois na cápsula de fuga (cápsula esta que tinha um furo e devia ter torrado ela lá dentro, mas tudo bem, vamos relevar isso, né? Afinal, sou um cara legal...), Superman ataca Zod na fazenda Kent e... o leva para O MEIO DE SMALLVILLE (destruindo silos de armazenamento e maquinário no caminho, é claro). Este é o Superman mais CATASTRÓFICO que já vi, e isso me incomoda. Afinal, o Kansas tem milhares de acres de NADA para que duas criaturas superpoderosas se enfrentem sem machucar ninguém! E esta falta de preocupação de Kal-El me incomoda. “Entrem em suas casas. É perigoso aqui fora.” Seu cretino! Do que adianta fechar portas se você entra através de paredes? Pelo amor de Deus, você destruiu um posto de gasolina e sabe-se lá quantas pessoas você “ajudou” a matar por que o General Zod deu uma bordoada na sua mãe! Daí se segue uma luta bonita de se ver – sim, de se ver – mas fruto de uma irresponsabilidade e descaso ímpar com as pessoas ao redor. ISTO não é Superman.
 
Agora falo novamente dela: Faora-Ul. Duas observações. A primeira é que é estranho a capa dela se queimar durante o combate, mas a do Kal SEMPRE fica intacta. No máximo com fuligem. E segundo: ela é uma personagem cheia de si, arrogante e admirável. Muitas vezes mais que o próprio Zod. Ela luta melhor e sua frieza deveria colocá-la no lugar do General, que, por várias vezes, parece não ter senso de estratégia durante o filme.
 
Falaram tanto do tal pôster “Keep Calm and Call The Batman” dentro de um estabelecimento de Smallville, mas não consegui ver essa idiotice (sim, é idiota um herói soturno e tido como vigilante encapuzado ter um pôster deste tipo). Onde estava? No iHop? No banco? No Sears? Quem souber, tire um BOM print screen.

E, pra fechar este ato (o maior deles, com 40 minutos), Lois Lane existe mesmo pra estragar a vida dos outros: por que diabos essa mulher vai no carro da polícia pra casa dos Kent e corre pra falar com o Superman o chamando de CLARK para o policial local ouvir até se fosse surdo? O governo só não sabe que Superman/Kal-El é Clark Kent por que NÃO QUER! A melhor solução seria ela já estar lá na fazenda, ajudando a Martha Kent a recolher seus pertences antes do Superman chegar. Aí ela poderia contar, de forma discreta, como derrotar os kryptonianos (conforme Jor-El ensinou no PowerPoint dele).
 
Quinto Ato: O Código Vermelho

Vamos ver se eu entendi o plano de mudança de atmosfera da Terra elaborado pelo Zod (o que o Dr. Emil Hamilton definiu como Terraformação): ele utilizou os mecanismos de dobra da Zona Fantasma para ser um desdobrador espaço temporal que fazia a nave viajar por buracos-de-minhoca (que foi como ele chegou à órbita lunar depois de receber o sinal da nave kryptoniana encontrada por Clark). Aí, depois disso, ele converteu este mecanismo para ser uma amplificador de gravidade que funcionaria como um pilão, um bate-estaca de 180°. Com a mudança de gravidade, você altera a composição atmosférica do planeta pra ficar igual à de Krypton. Mas que idiota! Com a atmosfera do jeito que tá, filtrando a radiação solar de uma maneira que você consegue ter todos os superpoderes que você nunca terá num ambiente kryptoniano, pra que você vai mudar?! Esse é seu general, Faora-Ul? Você está melhor sozinha!

Tirando a forma como o Superman é assim designado pelas pessoas (não é ser ranzinza, só achei muito simplório o modo como ele é “batizado” Acho que deveria ser o POVO a dizer isso, e não um representante de todos numa base militar), eu curti neste ato o fato do brilho ter ficado com os coadjuvantes. Perry White estava excelente interpretado pelo paternal Lawrence Fishburne (eu tive a impressão de que Perry White é um gay bem sucedido neste filme. Mas veja bem, não é demérito ao personagem. Muito pelo contrário: representa um gay que não é afetado e que é bem sucedido, um chefe de redação respeitado e que sua vida pessoal não influencia seu reconhecimento. Acredite, quando assisti com esta ótica, o personagem melhorou pra mim.); Michael Kelly (que já trabalhou com Snyder em “Dawn of the Dead”) como o adorável covarde Lombard estava muito legal; Rebecca Buller estava muito simpática como Jenny (tirem a minha dúvida: ela foi mesmo a versão feminina de Jimmy Olsen, como estavam especulando antes do lançamento, ou é mentira? Afinal, sua personagem não desfruta de um sobrenome); Richard Schiff estava desempenhando o papel padrão de cientista vislumbrado na pele do Dr. Emil Hamilton; e o melhor coadjuvante: Christopher Meloni, como o Coronel Nathan Hardy. Eu estava conversando com meus amigos Arides e Wendson e fui quase ludibriado a voltar na minha conclusão, mas reassistindo, reintero: este personagem é uma homenagem ao líder tático do projeto CADMUS, o Guardião. Todas as vezes que ele se comunica por rádio, detalhando as ações, ele se denomina “GUARDIÃO”. Um cara, soberbo, mas muito honrado. Ele não esperava vencer Faora-Ul com uma faca – logicamente – mas não há outra ordem que ele deva seguir sem ser a de morrer lutando até o fim.

Depois de fazer a apresentação de Power Point do Jor-El para a equipe do General SwanWick, Lois segue para o avião com o Doutor e o Coronel para destruírem os planos de Zod em Metropolis, enquanto Superman parte pro extremo oposto (suponho que seja a China) para impedir a nave menor. Muita gente se incomodou com a luta do Kal contra a nave e seus tentáculos. Eu, particularmente, não me incomodo, pois ele luta inúmeras vezes em várias mídias (como quadrinhos e animações) contra naves alienígenas. Seria hipocrisia não gostar disso agora. E a luta foi até muito boa! Afinal, é neste momento que ele se transforma em Superman, literalmente (o leve efeito do rosto dele se transformando na face do Christopher Reeve sob o raio gravitacional da nave é bem bonito). E é aí que acho que a homenagem deveria ser escancarada na trilha sonora musical (trilha sonora se divide em três faixas: efeitos sonoros – ou folley - , falas e música) colocando a música do John Williams enquanto ele se ergue para o seu esforço final! Coisa de saudosista? Sim, mas lembrando que a trilha sonora deste filme é épica. Mas aí acontece novamente aquilo que me incomoda neste Superman: mais uma vez ele grita como um animal! Até aceitava aquela respiração pesada de quem está levantando muito peso, mas não precisa gritar ou grunhir.


E pra fechar este ato, a cena da derrota dos kryptonianos: em que momento a Lois pegou o pendrive do Jor-El de volta? Eu não me recordo! A última vez que vi, isso estava espetado lá na nave maior (que eles estão indo agora destruir). Somos apresentados a um elemento tão recorrente no cinema há 50 anos: o grito de Wilhelm. É aquele grito que o soldado dá quando é jogado para fora do avião quando a Faora-Ul chega para acabar com a alegria dos militares. Não demérita o filme, é um detalhe de áudio que acho interessante. Mas, enfim... vídeo abaixo. Aí acontece o choque entre a nave-prisão-bate-estaca e o avião que carrega a nave do bebê Kal-El. Aí fica a pergunta: todos morrem com o impacto ou todos ficam presos na Zona Fantasma? Minha aposta é que os humanos morrem na hora, pelo impacto, e os kryptonianos morrem um tempinho depois, por que eles perdem seus poderes devido à falta de exposição aos raios solares e por ficarem expostos às intempéries espaciais da Zona Fantasma numa nave cujo casco foi totalmente avariado.



Não preciso nem falar que o beijo entre o Superman e a Lois no fim deste ato foi desnecessário né? Foi puro blue balls do Kal.


Último ATO: Fúria de Titãs


Por que o Superman não remaneja NUNCA a luta para um lugar onde não vá gerar mais danos ao patrimônio e fazer menos vítimas humanas (sim, nesta ordem)? Ele quer mesmo mostrar ao que veio. Sem contar que, do nada, ele parou de planar de pé. Começou a planar deitado! Poxa, parece até aqueles efeitos visuais de cabo que o cara se enrola pra executar e diz “faz esta porcaria deitado mesmo...”, sabe?

"Este anel de vôo do Chapolin é bem útil..."

Mas eu percebi que não é uma prerrogativa do Kal-El destruir mais do que o necessário. Esta síndrome de pedreiro (de destruir mais pra dizer que está trabalhando) é inerente a todo kryptoniano. Vide o Zod (que cada vez mais mostra que de líder tático não tem nada e que General deve ser seu primeiro nome, e não sua patente), que lança um caminhão tanque da Lexcorp contra o Kal-El, que simplesmente vira de lado e passa entre os dois recipientes. Mas tá lá o caminhão explodindo, claro! Ou seja, esta cena está no filme só pela explosão, por que ela é totalmente desnecessária!


Mas vamos a uma cena maneira: quando o Superman desce do alto do prédio voando de encontro a um Zod que escala o edifício enfurecido. Uma clara menção ao embate da esperança dos céus representada por Jesus Cristo (deixando claro que não tenho religião, sou apenas um observador) e o caos rastejante do anjo caído. Muito legal esta cena... que poderia ter sido realizada num cânion (remetendo ao embate de ideologias entre Jesus e Lúcifer no deserto durante a peregrinação).
 


Quando o Zod – um mestre dos próprios sentidos, segundo ele mesmo – percebe que pode voar e parte para a luta aérea com Kal, eu gostei bastante da manobra de giro da capa! Vale a pena sempre mostrar o quanto esta peça de roupa é inútil! De repente, em RPG, isto deve dar algum bônus de persuasão ou carisma. Mas não existe sex appeal aplicado em pancadaria! Aí é um sai de baixo dos demônios: Zod joga o satélite da Wayne Enterprises contra Kal e esta queda em direção ao solo passa pelo prédio da Lexcorp até que ambos caem na estação de trem. Aí entra uma das partes controversas do filme. Com um mata-leão muito do mal articulado no General, Superman tenta subjugá-lo e impedi-lo de fritar uma família no canto da estação. Kal, meu filho, você segurou uma cápsula de fuga de METAL que estava em reentrada, superaquecida pelo atrito atmosférico. Não reclamou de dor alguma nas mãos. Por que você não colocou a mão nos olhos dele, simplesmente, rapaz!? Daria tempo da família correr pra longe e a luta continuar. “Ah, mas o Zod disse que não iria parar nunca, que mataria a todos. Ele tinha de morrer, seu bobalhão!” Cara, e quem disse que me incomodou ele ter matado o Zod? Achei válido, achei que era o único jeito mesmo, pois seria questão de tempo de Zod se tornar muito mais poderoso que Kal. O que me incomodou, de fato, foi ele ser um herói de porcelana! Ele se fragiliza demais, se entrega às emoções demais. Lembra-se que eu disse que admitia o Superman gritando apenas diante da morte? Eu aceito ele gritar na morte do Zod, mas não chorar. Aquele grito é uma forma dele “dizer”: “Fui obrigado a tirar uma vida para que bilhões de outras não fossem tomadas! Zod, você viu o que me obrigou a fazer?”. Eu curto isso, acho legal! Mas não curto ele se ajoelhar diante de Zod (morto) e ser amparado pela Lois (que faz um papel maternal ali) tendo aquela família diante deles, assistindo aquele Deus chorando por ter matado um Titã. Isto fragiliza o herói. E não gosto disso. Ele deveria ter, sim, gritado, segurado o choro, olhado para a família, depois para Lois e partido para o ALTO E AVANTE.
 
Meu amigo Kiko Junqueira me apresentou uma inversão de valores políticos do Superman muito interessante, que é claramente visto nestes filme: antes, o último filho de Krypton era um conservador, que lutava pelos valores e meios de vida americanos (tanto que ele é a cara do Ronald Reagan no “The Dark Knight Returns”, um conservador velado); agora, ele é um arauto da liberdade de escolha e da autonomia do indivíduo, o que simboliza o atual estado político dos EUA, ministrado pelo Partido Liberal. Tanto que sua capa neste filme – uma bandeira que tremula ao redor do mundo – não tem símbolos para delimitar sua luta. Logo, aquela cena onde ele derruba o aparato de espionagem do Governo é uma pá de cal sobre o Superman Boneco do Estado, “Tem que ser sob os meus termos”, liberdade de negociação, e não aceitação sem resistência. Muito legal isso.

E quando eu achei que o filme terminaria sem certas galhofas, eis que me surge o Clark Kent jornalista. Estava indo tudo tão bem, ele não precisava ter este emprego. E vamos combinar: ele é um péssimo Clark Kent disfarçado. Qualquer um percebe que aquele homenzarrão é muito mais do que os olhos podem ver. O Reeve era um Superman alto e forte, mas ele interpretava um camarada totalmente frágil, ainda que com toda aquela carcaça. Realmente seria mais difícil identificá-lo como o Escoteiro. Infelizmente, o filme terminou desta forma.

Considerações Finais

No fim das contas, o que condenou o filme foi justamente o que foi alegado como o trunfo da produção: Zack Snyder, Christopher Nolan e David S. Goyer. Separados, eles são excelentes, acima de qualquer crítica, mas juntos, foram um conflito de ideias que gerou uma confusão a ser degustada. Mal comparando, é como se misturássemos pudim de leite com petit gateau e torta alemã: cada um é delicioso, mas se misturar, enjoa e faz mal pra digestão.

 “Man of Steel” é um filme grandioso, de fotografia excelente, com interpretações louváveis e trilha sonora impecável... mas que é extremamente pretensioso. O filme é uma abordagem depressiva de um megalomaníaco que quer ser aceito, mas ele, dentro de seu âmago, acha que é superior aos outros. Fica dizendo que as pessoas não estão prontas pra ele, mas não vejo ele se importar tanto assim com as pessoas.

No fim das contas, “Man of Steel” até subiu no meu conceito, depois desta crítica! De 0 a 10, eu tinha dado nota 4! Agora, ele é nota 4,5 pra mim! Tudo por detalhes técnicos!

Se você gostou de tudo que foi dito acima, não se sinta só. Há quem compre sua briga; agora, se você continua sendo um “mimizento”, faça um favor pra todos nós: vá idolatrar este teu filminho LONGE DE MIM!
 
 "P-p-p-por hoje é só, p-p-p-pessoal!"

"Man of Steel" - UM FILME SUPER... ESTIMADO! - Parte 1




Para início de conversa, já adianto que o texto é longo. Seu objetivo é de analisar ÚNICA e EXCLUSIVAMENTE o primeiro filme, pois não se pode relevar a qualidade da primeira obra obstante a apresentação de uma sequência avassaladora. Cada filme deve ser capaz de se bastar como entretenimento único. Então, conjecturas sobre o futuro não serão argumentos esmiuçados e considerados.

 "Futuro? Eu vou te contar sobre o fut..."/"Aqui, não!"

Outro aspecto a ser considerado é o que PRECEDE este filme no que diz respeito a material relevante: não considerarei os seriados televisivos e animações. Apenas material impresso e películas anteriores

Esse aí, nem pensar!

A crítica a seguir não aspira mudar o fato de você ter gostado do filme. Afinal, gosto não se discute e o que é diversão para mim pode não ser diversão para você. A única pretensão destas laudas é mostrar os parcos pontos positivos do filme e suas toneladas de falhas miseráveis.


Comecei a curtir o último filho de Krypton – pra valer mesmo – depois do “The Animated Series: Superman”. Até então, ele era “o Tarzan dos Heróis”, “o Síndico da Confraria Fantasiada” ou, simplesmente, o dono da bola! Assisti seus filmes, li algumas de suas revistas, comprei a saga de morte, retorno e revanche do Superman (não tanto pela história, mas por achar que no futuro isto valeria milhões. Hoje, elas valem tanto quanto a credibilidade dos roteiristas envolvidos na trama caça-níquel).

 Especulação de quadrinhos: mantenha-se fora dela!


Então, após a série animada, fui apresentado a “Smallville”. Não tenho vergonha em dizer que assistia. As duas coisas que realmente me incomodavam na série era a capacidade limitadíssima de raciocínio e memória de passarinho de todos os humanos da série. Mas fora isso, era uma série que abordava com um “realismo” singular a presença do alienígena mais gente fina dos quadrinhos entre os humanos. Referências respeitosas, atuações nem tanto, mas, no fim das contas, uma boa série sobre o vindouro Superman... Até a 3ª temporada (que foi disparada a melhor). Depois disso, as esquisitices foram piorando a cada temporada e não sei como este inferno durou até a 10ª, mas durou.

 Pena que virou "Malhação" com Superpoderes...

Assisti o filme de 2006, dirigido pelo diretor-frisson da época: Bryan Singer. O cara tinha feito a primeira adaptação de super-heróis numa condição realista até então: “X-Men”. Seria ele a solução para o retorno do MAIOR HERÓI DE TODOS OS TEMPOS... NOT! O filme foi lento, com atuações sofríveis e um enredo que foi o primeiro filme do Donner, mas com Biotônico Fontoura. Isto fez com que Kal colocasse as cuecas de molho. Até 2013.

Eu relutei muito em fazer esta crítica. Os motivos são muitos: as pessoas dizem que sou ranzinza; que odeio tudo que é novo; que meus argumentos são depreciativos; que não gosto de ver ninguém feliz (um absurdo. Adoro me ver feliz); até uma pessoa que eu julgava um bom amigo, após ler sete laudas sobre minhas impressões do filme teve a coragem de me dizer, dentre outras palavras doídas e recalcadas “Teria sido muito mais simples e resumido assumir que VOCÊ não gostou do filme, porque a bem da verdade, seu argumento continua não me convencendo. E acredite, você também não convenceria ninguém que assistiu o filme e que conhece o Superman e conhece estruturas de filmes”. Isto deve soar xiita só pra mim, já que talvez alguns de vocês não saibam, mas eu sou roteirista e consultor de construção dramatúrgica pela PersonaGen Ltda, uma cooperativa de roteiristas. Saiba que tudo que eu analiso é realizado de forma fria e desprendida de envolvimento prévio com a obra. Por exemplo, o novo filme do Homem-Aranha (“Spectacular Spider-Man”, 2012) – herói do qual sou um fã desde molequinho – é uma bomba sentimentalóide que ojerizo tanto quanto “Cinderela Baiana”.

 Mantenha Distância!

Diante da declaração do até então meu amigo e de outros dois que desfizeram sua amizade comigo (por me julgarem um reclamão sem base) e que não queriam alguém negativo como eu ao lado deles, preferi assumir a postura de “Acho que basta eu dizer que NÃO GOSTEI, pois meus argumentos serão desenvolvidos contra pessoas surdas que estão predispostas a gostar de tudo que façam sobre seu personagem favorito”. Essas pessoas sempre dizem que eu não tenho argumentos, mas elas não entendem que elas não valem a pena o debate. E saber que pessoas como meus grandes amigos fãs do “Superman” Arides Luna (o maior fã de Superman que conheço, se equiparando ao meu tio Sergio) e Kiko Junqueira (que lia meus desabafos inbox com ele sobre este filme e dizia: ‘as pessoas precisam te ouvir, pois você tem muita lógica no seu argumento’) também não gostaram do filme, me incentivou a expor minhas considerações sobre o filme. 

E para começar, eu percebi que não gostei do filme, mas o que ODEIO de verdade são os FÃS desse filme. O filme ser ruim não é um problema, ele pode ser divertido. Está aí “Transformers” que não me deixa mentir. Mas ele é visto como ruim por praticamente todos que gostam dele. Não há hipocrisia nesta análise. E fico feliz pelas pessoas admitirem gostar de um filme ruim e estarem conscientes de seu status desacreditado. Isto é a felicidade que respeito. Mas se estes fãs de “Man of Steel” tivessem peito de simplesmente dizer “Cara, eu simplesmente me diverti com o filme. Não me preocupei com parte técnica e a trama exposta no roteiro”, eu respeitaria muito mais. O que me irrita profundamente, o que me faz espumar de raiva é saber que estas pessoas defendem as falhas desse filme como pontos fortes como guerrilheiros se unem a um ideal que já se deturpou há décadas. Eles não sabem pelo que lutam, mas são instruídas a defender aquilo, sem questionar.

Pois bem, o filme, numa escala de 0 a 10, é nota 4. Tá com raiva, é? Então, se você vai ler o que vier a seguir iradinho, fique com esta frase: “EU NÃO GOSTEI”. Coloque ela bem no fundo do seu... bolso e fique com esta imagem de mim e continue sendo obtuso. Agora, se você engoliu em seco, mas gostaria de saber os motivos pelos quais este filme é ruim, siga adiante. Quem sabe você possa crescer com uma nova visão das coisas, uma perspectiva diferente de um cara frio e sóbrio?

Vou analisar cronologicamente, ok? Cada ato do filme tem média de 20 minutos (sendo um deles com 40 minutos) e é neste tipo de estrutura que basearei minha análise. Então, como diria o Coringa em “The Dark Knight”...

"And Here We... GO!"